sexta-feira, 2 de abril de 2010

Viagem, destino: consciência


Quando estamos na auto-estrada, dentro de um carro ou ônibus, não é inevitável a reflexão de nossas próprias vidas, após um balanço de tudo que passou, e do que ainda virá? A vontade de viver mais e melhor vem à tona junto com o desejo de descobrir, desbravar, aprender, recomeçar, e fazer tudo novamente, mas pela primeira vez, de novo!

Podemos viajar de maneiras diferentes, seja através dos meios de transporte, usando nossa própria mente ou também espiritualmente. Trilhar o caminho do autoconhecimento é tomar as rédeas da nossa própria charrete. É assumir o controle da direção e seguir em frente, enfrentando as aventuras e desventuras que surjam em sua rota. Ao buscarmos as respostas dentro de nós mesmos experienciamos o desenrolar de um mapa que revela, pouco a pouco, nosso verdadeiro interior.

As viagens nos ensinam a viver, sejam elas para fora ou para dentro de nós mesmos e estimulam o crescimento. Em contato com outras culturas, diferentes cenários e com a manifestação vívida da natureza, abrem-se as cortinas de um palco para ensaiarmos nosso verdadeiro ser. Nos interiorizamos mais e estando diante de um novo pano de fundo podemos escolher como iremos atuar daqui para a frente. Ficamos diante de inúmeros detalhes que aguçam e despertam nossos sentidos. Viajar faz bem pra alma, e repito: tanto pra dentro quanto pra fora. A viagem física, mental ou espiritual é um mergulhar num universo único, cheio de mistérios sobre nossa própria existência, sobre quem somos nós. E desvendar um a um nos dá a verdadeira sensação de liberdade.

É outono. Mire as folhas que caem das copas das árvores. Repare que belo o mergulhar sincronizado que mais parece uma dança ensaiada das folhas que atapetam o chão! Esse espetáculo da natureza ensina-nos a deixar de lado o que não serve mais, para que retorne ao início do ciclo perfeito. A quietude te permitirá essa contemplação, e esta estação austral sugere um pouco mais de recolhimento. Não a hibernação invernal, mas uma fase mais introspectiva, onde o Yin vem acalmar o Yang, onde é possível sentir melhor o aroma de terra molhada, o frescor do orvalho da manhã... É o verdadeiro esquema da vida, o ciclo natural. É a hora onde, segundo os povos xamânicos, " (...) se armazena os frutos dos seus esforços e se examina a si mesmo para descobrir as mudanças nescessárias para progredir". Nosso ser amadurece um pouco mais, escuta mais seu "Eu Superior". Nosso interior pode beneficiar-se resgatando nostalgicamente pedacinhos da nossa história que foram deixados pra trás e que rendem uma colorida colcha de retalhos de boas recordações!

Reduzindo um pouco o ritmo, façamos um balanço geral de nós mesmos. Façamos uma lista daquilo que queremos deixar ir. Preparemos as mochilas, joguemos fora as pedras que carregávamos até agora e continuemos na trilha mais conscientes, mais despertos. Aproveitemos esse momento elevando nosso nível de percepção e tornando consciente os reais propósitos de nossas existências.

Louise Prates
Para o Jornal Grande Tijuca - Rio de Janeiro - RJ
02 de abril de 2010