segunda-feira, 21 de junho de 2010


Quando desenvolvemos a percepção de nós mesmos como 'ser sutil', o ser energético, e como partícula do Grande Universo, um portal de comprensões da vida e dos relacionamentos começa a se abrir frente aos nossos olhos. Sincronicidades simultâneas trazem o tom do aprendizado e através dessas interações com lugares, pessoas ou outros seres vivos é que a coisa se desenrola. Palcos dessa existência, são nossas casas. As ruas também servem de cenário no tablado do dia-a-dia. Nossos amigos, espelhos para que vejamos a nós mesmos, nossas falhas e acertos. Nada é esquecido, e tudo é deixado efemeramente para trás transformando-se em experiências singulares. Transformação... palavra cheia de significado! Usemos-na, quantas vezes forem nescessário! Sua tônica traz a chave para curarmos nossas feridas mais expostas, até aquelas mais escondidas ou então aquele calinho chato onde aperta e nos massacra, e só a gente sabe onde. Harmonizemos revertendo o stress, pois ele nos exaure pouco a pouco, rouba nossa energia vital e envelhece nossos semblantes, mentes e corpos. Vivamos mais o hoje: "Be Here Now", estejamos mais presentes em nossa própria consciência, desfrutemos da beleza que o Amor nos traz e das risadas e das delícias de que é 'ser bobo'.


L.P- 21/06/10


Degustem "Das Vantagens de ser bobo" de Clarice Lispector:


O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir, tocar no mundo.

O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado

por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo, estou pensando”.

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de

sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.

O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver.

O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer.

Resultado: não funciona.

Chamado um técnico, a opinião deste era que o aparelho estava tão estragado que o concerto seria caríssimo: mais vale comprar outro.

Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e, portanto estar tranqüilo.

Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros.

Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu.

Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.

Os espertos ganham dos outros. Em compensação, os bobos ganham a vida.

Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás,

não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro,

com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem

por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.

É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca.

É que só o bobo é capaz de excesso de amor.

E só o amor faz o bobo.


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